sexta-feira, 30 de novembro de 2012

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Partidas inesperadas

   Nos últimos dois meses (praticamente), a minha presença em hospitais tem sido uma constante. Infelizmente. Sair do trabalho "a correr" para poder aproveitar alguns minutos da tua presença, e tu da minha.
   Maldita doença que não escolhe idades, chega de forma inesperada, aterrorizando família e amigos. Chega para matar quem ainda tinha uma vida para viver, quem não viveu metade do que lhe pertencia, quem sonhava ainda, quem trabalhava, quem amava, quem era bom...
   Custa perder qualquer pessoa de quem gostamos mas, inevitavelmente, sentimos a perda de uma forma mais cruel em jovens...
   Porquê? Não consigo entender...
   Por mais que, com o tempo, os médicos nos vão tentando preparar para uma perda futura de alguém que nos é especial, nunca (mas nunca mesmo) se está preparado para uma morte precoce. 
   Os médicos tentam dizer frontalmente que as hipóteses perante um tumor tão agressivo são nulas e vão-nos mentalizando porque vêem o sofrimento não só do doente mas também dos que lhes estão próximos, daqueles que, mesmo a custo, fazem questão de sorrir, apoiar, dar a mão a alguém de quem gostam, que mesmo sabendo que a situação é gravíssima pensam sempre que a esperança é sempre a última a morrer. Durante este período temos vivido dia a dia, cada minuto, sem pensar no amanhã.
  Os últimos pedidos, as últimas lágrimas, a mão dada e a tua voz "Não quero choro. Quero-te sempre a sorrir, fico de olho em ti, foste sempre uma pessoa muito especial"... Eu, que na tua presença me fiz de forte, sorri mesmo sem vontade, só porque a tua vontade era essa. Agarrei num sorriso e coloquei-o no rosto mas por dentro chorei como uma menina, nem imaginas quanto...
   Descança em paz!
   Eu sei que a vida continua, sei que não queres, mas preciso de chorar mais um pouco.
 
 
"A morte não é nada.
Apenas passei ao outro mundo.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro ainda o somos.

...Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou.
Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.

A vida continua significando o que significou:
continua sendo o que era.
O cordão de união não se quebrou.
Porque eu estaria fora de teus pensamentos,
apenas porque estou fora de tua vista?
Não estou longe,
Somente estou do outro lado do caminho.
Já verás, tudo está bem.
Redescobrirás o meu coração,
e nele redescobrirás a ternura mais pura.
Seca tuas lágrimas e se me amas,
não chores mais."
 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O azul que há em mim

    Lá estava eu, exposta ao sol, de mãos dadas com a areia, com os meus pensamentos tão repentinos. Gosto de me lembrar assim. Gosto de assim permanecer a olhar em direcção ao céu. Azul.
   O céu era azulinho da cor do mar, e os dois misturavam-se cada vez que eu os olhava. Azul clarinho, uma tonalidade luzente, bonita. A mais clara que consigas imaginar. Simplesmente azul...
   Não é essa cor que te faz sonhar? Não é essa cor que te marcou um dia? Não foi essa cor que nos uniu?
   É um privilégio olhar aquela imensidão azul, respirar o ar puro, sentir a leveza da água, esperar a tranquilidade na revolta das ondas, pensar em nós e ter a capacidade de sorrir.
    De muitos dias, lembro-me de um, assim, todo azul... Lembro-me de me tocares no cabelo com as mãos molhadas do mar e me sussurrares ao ouvido: "Para onde nos atrai o azul?"
   Eu respondi com uma pergunta: "Para o inalcançável...?"
  E as tuas frases seguintes fizeram-me sentir que o mundo era todo e sempre azul. Recordo-me tão bem! "Apaixonei-me pelo teu amor ao azul, a tua transparência, lealdade e serenidade. E a felicidade é a certeza disso. Se o inalcançável costuma ser sempre azul até me custa acreditar que agora estamos aqui, juntos." Sorri, sorriste e trocámos aquele abraço, só nosso, tão sincero e tão sentido.
   Disseste-me que, exposta ao sol, com um sorriso nos lábios e com os pés no mar te fez parecer que eu tinha sangue azul. Um azul limpo, transparente e encantador. E se sempre gostei do azul, desde aí que o comecei a amar...
   É muito o azul que há em mim! ...
   Hoje foi diferente. Não me expus ao sol, o tempo não o permitiu! O céu não estava muito azul e o mar está longe.
   Mesmo assim eu precisava de ar puro, precisava de azul. E de repente, lembrei-me apenas de me sentar no banco de um jardim.
   Senti uma brisa fresquinha a tocar-me nas costas. Pude ver as árvores, pude caminhar na relva, pude ver a alegria da minha menina a brincar. Pude muita coisa, até mesmo ver um pouco do céu azul. Mas era um azul diferente, não havia mar a enrolar-se com o céu.
   O azul estava acima dos grandes prédios, e mesmo a observar torres gigantes diante de mim, nada são comparadas ao azul clarinho do mar.
    Eu quero as coisas mais simples. Eu quero o outro azul. O azul em que ambos acreditámos há algum tempo atrás. Quero o azul daquele meu sangue imaginário, o azul diferente...
   Mas esse azul existe?
   Quem me fez acreditar que o mundo era azul?
   Apenas tenho de me mentalizar que, mesmo tendo um gosto especial pelo azul, as outras cores também existem!
   Se sabia? Sabia sim. Mas preferia aquele azul que já houve em mim!

domingo, 4 de novembro de 2012